segunda-feira, abril 30, 2007

Maria: Mãe de Deus

Que significa proclamar Maria “Mãe de Deus”? Significa reconhecer que Jesus, o fruto do seu seio, é o Filho de Deus, consubstancial ao Pai, que o gerou na eternidade (Credo). Um grande mistério, um mistério de amor! Ele, o Filho único do Pai (Jo 1, 14), fez-se um entre nós. Desta forma, “a eternidade entrou no tempo” e a sucessão dos anos, dos séculos, dos milénios, não é uma viagem cega para o desconhecido, mas um caminho para Ele, plenitude do tempo (Gal 4, 4) e ponto de chegada da história.
Honrando a Santíssima Virgem como Mãe de Deus, queremos igualmente sublinhar que Jesus, o Verbo eterno feito carne, é o verdadeiro "filho de Maria”. Ela transmitiu-lhe a plena humanidade, foi sua mãe e sua educadora, comunicando-lhe a doçura, a força delicada do seu temperamento e as riquezas da sua sensibilidade. Maravilhosa troca de dons: Maria que, enquanto criatura, é primeiro que tudo uma discípula de Cristo e ao mesmo tempo resgatada por Ele, foi escolhida como sua mãe para modelar a sua humanidade. Na relação entre Maria e Jesus realiza-se assim de maneira exemplar e sentido profundo do Natal: Deus fez-se semelhante a nós, para que nos tornemos, de certa forma, como Ele.
João Paulo II

sábado, abril 28, 2007

O Bom Pastor

29 de Abril Quarto Domingo da Páscoa
"As minhas ovelhas escutam a minha voz: Eu conheço-as e elas seguem-me. Dou-lhes a vida eterna, e nem elas hão-de perecer jamais, nem ninguém as arrancará da minha mão. O que o meu Pai me deu vale mais que tudo e ninguém o pode arrancar da mão do Pai. Eu e o Pai somos Um." (São João 10, 27-30)
Aquele que é bom, não por um dom recebido mas por natureza, diz-nos: "Eu sou o bom Pastor". E continua, para que imitemos o modelo que nos deu da sua bondade: "O bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas" (Jo 10.11). No seu caso, Ele realizou o que tinha ensinado; mostrou o que tinha ordenado. Bom Pastor, Ele deu a vida pelas suas ovelhas, para mudar o seu corpo e sangue em nosso sacramento e saciar com o alimento da sua carne as ovelhas que tinha resgatado. Mostrou o caminho a seguir: desprezou a morte. Eis diante de nós o modelo a que temos de nos conformar. Em primeiro lugar, gastar-nos exteriormente com ternura pelas suas ovelhas; em seguida, se for necessário, oferecer-lhes a nossa morte.
Ele acrescenta: "Eu conheço - quer dizer, amo - as minhas ovelhas e elas conhecem-me". É como se dissesse de uma forma mais clara: "Quem me ama, siga-me!", porque quem não ama a verdade é porque ainda a não conhece. Vede, irmãos caríssimos, se sois verdadeiramente as ovelhas do bom Pastor, vede se O conheceis, vede se vos apropriais da luz da verdade. Não falo da apropriação pela fé mas pelo amor; vede se vos apropriais não pela vossa fé mas pelo vosso comportamento. Porque o mesmo evangelista João, que nos transmitiu esta palavra, afirma ainda: "Quem diz que conhece Deus e não guarda os seus mandamentos, é um mentiroso" (1 Jo 2,4). É por isso que, no nosso texto, Jesus acrecenta logo a seguir: "Assim como o Pai me conhece, Eu conheço o Pai e dou a vida pelas minhas ovelhas", o que equivale a dizer claramente: o facto de que Eu conheço o meu Pai e sou conhecido por Ele consiste em que Eu dê a vida pelas minhas ovelhas. Por outras palavras: este amor que me leva a morrer pelas minhas ovelhas mostra até que ponto Eu amo o Pai.
São Gregório Magno (c. 540-604)
Papa, Doutor da Igreja

quarta-feira, abril 25, 2007

A vida é um dom. Sorri e desfruta-a.

(Foto tirada por Miguel Tacão)
Esta é a história de uma jovem cega que odiava-se a si mesma e a todo o mundo por ser cega. Odiava a todos, menos ao seu namorado, ao qual desejava tudo de bom. Um dia, conseguiu um par de olhos sãos. Operaram-na e começou a ver. Depois da operação, o namorado perguntou-lhe se casaria com ele, ao qual ela respondeu que não, porque apercebeu-se que ele era cego. O namorado, triste, compreendeu e afastou-se da sua vida. Quando partiu, disse: Peço-te que cuides bem dos meus olhos, pois ofereci-te-os e agora são teus.
Hoje, antes de dizeres algo destrutivo, pensa naqueles que não podem falar;
Antes de reclamares do sabor da tua comida, pensa naqueles que não têm nada para comer;
Antes de reclamares do teu par, pensa nos corações solitários e tristes que sentem saudades de um companheiro(a);
Antes de reclamares dos teus filhos, pensa naqueles que não os têm e que os desejam tanto;
Quando estiveres cansado do teu trabalho e pensares em deixá-lo, pensa também nos milhões de pessoas que estão desempregadas e que desejariam ficar com ele;
Antes de assinalares com o dedo e tomares a liberdade de julgar, lembra-te que todos cometemos erros e continuaremos a cometê-los.
E quando o cansaço e as trevas quiserem tomar conta de ti e encher-te de pensamentos negativos e destrutivos, SORRI !!
SORRI e dá graças a Deus, porque estás vivo e ainda andas por aqui.
A vida é um dom, uma aventura, uma celebração, uma viagem maravilhosa.
DESFRUTA-A
(Desconheço o autor)

segunda-feira, abril 23, 2007

Unir-se a Cristo

Que nada te impeça de te unires a Cristo... Reza sem tardar, suplica de todo o teu coração, pede com ardor, até que recebas. Não desanimes. Essas coisas ser-te-ão dadas se, desde já, com toda a tua fé, fizeres violência sobre ti mesmo para confiares a Deus a tua preocupação e para substituires as tuas próprias previsões pela providência de Deus. Quando Ele ver a tua vontade, quando ver que, na pureza do teu coração, confiaste nele mais do que em ti mesmo e fizeste violência sobre ti para esperar nele mais do que na tua alma, então esse poder que tu desconheces virá habitar em ti. E sentirás em todos os teus sentidos o poder daquele que está contigo para além de qualquer dúvida. Graças a esse poder, muitos entram no fogo e não temem, caminham sobre a água e não hesitam.
Santo Isaac, o Sírio (séc. VII)
Monge em Ninive

domingo, abril 22, 2007

"Tu amas-me..."

"...Depois de terem comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: «Simão, filho de João, tu amas-me mais do que estes?» Pedro respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que eu sou deveras teu amigo.» Jesus disse-lhe: «Apascenta os meus cordeiros.»..." (São João 21, 1-19)
“Tu amas?... Tu amas-me? …” Para sempre, até ao fim da sua vida, Pedro devia caminhar acompanhado desta tripla questão: “Tu amas-me?” E ele conformaria todas as suas actividades à resposta que então tinha dado. Quando foi convocado perante o Sinédrio. Quando foi preso em Jerusalém, prisão da qual não devia sair, e da qual contudo saiu. E … em Antioquia, depois ainda mais longe, de Antioquia a Roma. E quando em Roma ele perseverou até ao fim dos seus dias, conheceu a força das palavras segundo as quais um Outro o conduzia para onde ele não queria. E ele sabia que, graças à força dessas palavras, a Igreja “era assídua ao ensino dos apóstolos e à união fraterna, à fracção do pão e às orações” e que “o Senhor acrescentava todos os dias à comunidade os que seriam salvos” (Ac 2, 24.48).
Pedro não pode nunca desligar-se desta pergunta: “Tu amas-me?” Ele leva-a consigo para onde quer que vá. Leva-a através dos séculos, através das gerações. No meio de novos povos e de novas nações. No meio de línguas e de raças sempre novas. Leva-a sozinho, e contudo não está mais sozinho. Outros a levam com ele… Há muitos e muitos homens e mulheres que souberam e que sabem ainda hoje que toda a sua vida tem valor e sentido apenas e exclusivamente na medida em que é resposta a esta mesma questão: “Tu amas? Tu amas-me?” Deram e dão a sua resposta de forma total e perfeita – uma resposta heróica – ou então de uma forma comum, vulgar. Mas em todos os casos sabem que a sua vida, que a vida humana em geral, tem valor e sentido na medida em que é resposta a esta questão: “Tu amas?” É apenas graças a esta questão que a vida vale a pena ser vivida.
João Paulo II

sexta-feira, abril 20, 2007

O Senhor chama-nos...

Se os homens soubessem o que é o amor do Senhor, seria em multidões que acorreriam junto de Cristo, para que os reconfortasse a todos com a sua graça. A sua misericórdia é inefável.
O Senhor ama o pecador que se arrepende e aperta-o ao peito com ternura: "Onde estavas, meu filho? Espero-te há tanto tempo!" Pela voz do Evangelho, o Senhor chama a si todos os homens e a sua voz ressoa pelo mundo inteiro: "Vinde a mim, vós todos que penais e dar-vos-ei repouso. Vinde e bebei a água viva. Vinde e aprendei que vos amo. Se não vos amasse, não chamaria por vós. Não posso suportar que se perca sequer uma só das minhas ovelhas. Mesmo por uma só, o Pastor vai pelas montanhas e procura-a por toda a parte. Vinde a mim, minhas ovelhas. Criei-vos a amo-vos. O meu amor por vós fez-me vir à terra e tudo sofri pela vossa salvação. Quero que conheçais o meu amor e que digais como os apóstolos no Monte Tabor: Senhor, é bom estar contigo (Mt, 17,4) ".
O Senhor chama-nos a si sem cessar. "Vinde a mim e dar-vos-ei o repouso". Ele alimenta-nos com o seu corpo puríssimo e com o seu sangue. Com bondade nos educa pela sua palavra e pelo Espírito Santo. Revelou-nos os seus mistérios. Vive em nós e nos sacramentos da Igreja e conduz-nos ao lugar onde veremos a sua glória.
São Siluane (1866-1938)
Monge ortodoxo

quarta-feira, abril 18, 2007

Cristo morreu por todos, mas ressuscitou também para todos

«Imagem de Deus invisível» (Col. 1, 15), Cristo é o homem perfeito, que restitui aos filhos de Adão semelhança divina, deformada desde o primeiro pecado. Já que, n'Ele, a natureza humana foi assumida, e não destruída, por isso mesmo também em nós foi ela elevada a sublime dignidade. Porque, pela sua encarnação, Ele, o Filho de Deus, uniu-se de certo modo a cada homem. Trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, excepto no pecado (He 4, 15).
O cristão, tornado conforme à imagem do Filho que é o primogénito entre a multidão dos irmãos (Ro 8, 29), recebe «as primícias do Espírito» (Rom. 8, 23), que o tornam capaz de cumprir a lei nova do amor. Por meio deste Espírito, «penhor da herança» (Ef. 1, 14), o homem todo é renovado interiormente, até à «redenção do corpo» (Rom. 8,23)... É verdade que para o cristão é uma necessidade e um dever lutar contra o mal através de muitas tribulações, e sofrer a morte; mas, associado ao mistério pascal, e configurado à morte de Cristo, vai ao encontro da ressurreição, fortalecido pela esperança.
E o que fica dito, vale não só para os cristãos, como para todos os homens de boa vontade, em cujos corações a graça opera ocultamente. Com efeito, já que por todos morreu Cristo (Ro 8, 32) e a vocação última de todos os homens é realmente uma só, a saber, a divina, devemos manter que o Espírito Santo a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal por um modo só de Deus conhecido.
Concílio Vaticano II
Constituição sobre a Igreja no mundo actual

segunda-feira, abril 16, 2007

Cristo: sinal de Esperança

Perante os múltiplos perigos e ameaças contra a existência da humanidade, os cristãos lutam, com toda a força da sua esperança e em união com todos os homens de boa vontade, por um futuro mais seguro, mais digno de ser vivido. Aliás, o que nos anima não é apenas uma esperança puramente terrestre, mas também e sobretudo essa esperança que provém da fé cujos fudamento e objectivo são em definitivo o próprio Deus: Deus que, em Cristo Jesus, disse o seu sim definitivo ao homem. Com a sua cruz e ressurreição, Cristo venceu todo o sofrimento e toda a calamidade do mundo, tornando-se assim para nós todos o sinal da esperança.
A esperança é uma virtude divina; é basicamente um dom que obtereis desde já... se o pedirdes inisistentemente a Deus, com os outros e pelos outros... Nós, os cristãos, temos simultaneamente o dever de manifestar publicamente a nossa esperança e de a partilhar com os outros. Pelas nossas palavras e acções, ricas de esperança, ajudaremos os outros a vencerem o medo de viver, a resignação e a indiferença e a terem confiança em Deus e nos homens. Como discípulos de Cristo..., oferecereis ao homem de hoje, cercado por mil ameaças e cheio de confusão, a palavra e a esperança que libertam.
João Paulo II

sábado, abril 14, 2007

"Felizes os que acreditam sem terem visto"

15 de Abril, Segundo Domingo de Páscoa

A incredulidade de São Tomé, por Caravaggio
"Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, com medo das autoridades judaicas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco!» Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o peito. Os discípulos encheram-se de alegria por verem o Senhor. E Ele voltou a dizer-lhes: «A paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós.» Em seguida, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos.» Tomé, um dos Doze, a quem chamavam o Gémeo, não estava com eles quando Jesus veio. Diziam-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor!» Mas ele respondeu-lhes: «Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu peito, não acredito.» Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez dentro de casa e Tomé com eles. Estando as portas fechadas, Jesus veio, pôs-se no meio deles e disse: «A paz seja convosco!» Depois, disse a Tomé: «Olha as minhas mãos: chega cá o teu dedo! Estende a tua mão e põe-na no meu peito. E não sejas incrédulo, mas fiel.» Tomé respondeu-lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» Disse-lhe Jesus: «Porque me viste, acreditaste. Felizes os que crêem sem terem visto». Muitos outros sinais miraculosos realizou ainda Jesus, na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e, acreditando, terdes a vida nele." (São João 20, 19-31)
Não se deve crer que S. Tomás fosse muito diferente dos outros apóstolos. Todos, mais ou menos, tinham perdido a confiança nas promessas de Cristo quando O viram a ser levado para ser crucificado. Quando Ele foi posto no túmulo, a esperança deles foi amortalhada com Ele, e quando lhes trouxeram a notícia que Ele tinha ressuscitado, nenhum acreditou nisso. Quando Ele lhes apareceu, “reprovou-lhes a sua incredulidade e o seu endurecimento” (Mc 16,14) … Tomás foi o último a ser convencido, porque foi último a ver Cristo. Pelo contrário, é certo que não era um discípulo reservado nem frio: anteriormente, ele experimentara o desejo de partilhar o perigo do seu Mestre e de sofrer com Ele … : “ vamos nós também, para morrermos com Ele!” (Jo 11, 16). Foi por causa de Tomás que os apóstolos arriscaram a vida com o seu Mestre.
S. Tomás amava pois o seu Mestre, como um verdadeiro apóstolo, e tinha-se posto ao Seu serviço. Mas quando O viu crucificado, enfraqueceu na sua fé por algum tempo, como os outros… e mais que os outros. Ele isolou-se, recusando o testemunho não de uma só pessoa, mas dos outros dez, de Maria Madalena e das outras mulheres… Faltava-lhe, parece, uma prova visível do que é invisível, um sinal infalível vindo do céu, como a escada dos anjos de Jacob (Gn 28, 12), para acalmar a sua angústia mostrando-lhe o fim do caminho no momento de se pôr em marcha. Habitava-o um desejo secreto de certeza e esse desejo revelou-se na altura do anúncio da ressurreição de Cristo.
O nosso Salvador consente na sua fraqueza, responde ao seu desejo, mas diz-lhe: “Porque me viste, acreditaste. Felizes os que acreditam sem terem visto”. É assim que todos os discípulos O servem, mesmo na sua fraqueza, para que Ele a transforme em palavras de ensinamento e de conforto para a Sua Igreja.
Cardeal John Henry Newman (1801-1890)
Padre, fundador de comunidade religiosa, Teólogo

quinta-feira, abril 12, 2007

"Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos"

"Aproximaram-se alguns saduceus, que negam a ressurreição, e interrogaram-no: «Mestre, Moisés prescreveu-nos que, se morrer um homem deixando a mulher, mas não tendo filhos, seu irmão casará com a viúva, para dar descendência ao irmão. Ora, havia sete irmãos: o primeiro casou-se e morreu sem filhos; o segundo, depois o terceiro, casaram com a viúva; e o mesmo sucedeu aos sete, que morreram sem deixar filhos. Finalmente, morreu também a mulher. Ora bem, na ressurreição, a qual deles pertencerá a mulher, uma vez que os sete a tiveram por esposa?» Jesus respondeu-lhes: «Nesta vida, os homens e as mulheres casam-se; mas aqueles que forem julgados dignos da vida futura e da ressurreição dos mortos não se casam, sejam homens ou mulheres, porque já não podem morrer: são semelhantes aos anjos e, sendo filhos da ressurreição, são filhos de Deus. E que os mortos ressuscitam, até Moisés o deu a entender no episódio da sarça, quando chama ao Senhor o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob. Ora, Deus não é Deus de mortos, mas de vivos; pois, para Ele, todos estão vivos.» Tomando, então, a palavra, alguns doutores da Lei disseram: «Mestre, falaste bem.» E já não se atreviam a interrogá-lo sobre mais nada." (São Lucas 20, 27-40)
É em face da morte que o enigma da condição humana mais se adensa. Não é só a dor e a progressiva dissolução do corpo que atormentam o homem, mas também, e ainda mais, o temor de que tudo acabe para sempre. Mas a intuição do próprio coração fá-lo acertar, quando o leva a aborrecer e a recusar a ruína total e o desaparecimento definitivo da sua pessoa. O germe de eternidade que nele existe, irredutível à pura matéria, insurge-se contra a morte. Todas as tentativas da técnica, por muito úteis que sejam, não conseguem acalmar a ansiedade do homem: o prolongamento da longevidade biológica não pode satisfazer aquele desejo duma vida ulterior, invencivelmente radicado no seu coração.
Enquanto, diante da morte, qualquer imaginação se revela impotente, a Igreja, ensinada pela revelação divina, afirma que o homem foi criado por Deus para um fim feliz, para além dos limites da miséria terrena. A fé cristã ensina que a própria morte corporal, de que o homem seria isento se não tivesse pecado - acabará por ser vencida, quando o homem for pelo omnipotente e misericordioso Salvador restituído à salvação que por sua culpa perdera. Com efeito, Deus chamou e chama o homem a unir-se a Ele com todo o seu ser na perpétua comunhão da incorruptível vida divina. Esta vitória, alcançou-a Cristo ressuscitado, libertando o homem da morte com a própria morte. Portanto, a fé, que se apresenta à reflexão do homem apoiada em sólidos argumentos, dá uma resposta à sua ansiedade acerca do seu destino futuro; e ao mesmo tempo oferece a possibilidade de comunicar em Cristo com os irmãos queridos que a morte já levou, fazendo esperar que eles alcançaram a verdadeira vida junto de Deus.
Concílio Vaticano II
Constituição sobre a Igreja no mundo actual "Gaudium et Spes"

sábado, abril 07, 2007

Ressurreição de Cristo

08 de Abril, Domingo de Páscoa
"No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo logo de manhã, ainda escuro, e viu retirada a pedra que o tapava. Correndo, foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo, o que Jesus amava, e disse-lhes: «O Senhor foi levado do túmulo e não sabemos onde o puseram.» Pedro saiu com o outro discípulo e foram ao túmulo. Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo correu mais do que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. Inclinou-se para observar e reparou que os panos de linho estavam espalmados no chão, mas não entrou. Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no túmulo e ficou admirado ao ver os panos de linho espalmados no chão, ao passo que o lenço que tivera em volta da cabeça não estava espalmado no chão juntamente com os panos de linho, mas de outro modo, enrolado noutra posição. Então, entrou também o outro discípulo, o que tinha chegado primeiro ao túmulo. Viu e começou a crer, pois ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos." (São João 20, 1-9)

Que todo o homem piedoso e amigo de Deus goze esta bela e luminosa festa! Que todo o servo fiel entre com júbilo na alegria do seu Senhor! (Mt 25, 23) O que carregou o peso do jejum venha agora receber a sua recompensa. O que trabalhou desde a primeira hora receba hoje o seu justo salário (Mt 20, 1s). O que chegou depois de passada a terceira hora celebre esta festa na acção de graças. O que chegou depois da sexta hora não tenha receio, não ficará prejudicado. Se alguém tardou até à nona hora, aproxime-se sem hesitar. Se houver quem se atrasou até à décima primeira hora, não tenha medo da sua preguiça porque o Mestre é generoso e recebe o último como ao primeiro..., exerce misericórdia sobre aquele mas cumula este. Dá a um e agracia o outro...
Assim, pois, entrai todos na alegria do vosso Mestre! Primeiros e últimos..., ricos e pobres..., os que vigiaram e os que se deixaram dormir..., vós que jejuastes e vós que não jejuastes, alegrai-vos hoje! O festim está pronto, vinde todos (Mt 22, 4)! O vitelo gordo está servido, que ninguém se vá embora com fome. Saciai-vos todos no banquete da fé, vinde servir-vos do tesouro da misericórdia. Que ninguém lamente a sua pobreza, porque o Reino chegou para todos; que ninguém chore as suas faltas, porque o perdão brotou do túmulo; que ninguém receie a morte, porque a morte do Salvador dela nos libertou. Aquele que a morte tinha agarrado destruiu-a, aquele que desceu aos infernos despojou-os...
Isaías tinha-o predito ao dizer: "O inferno ficou consternado quando te encontrou" (14, 9). O inferno ficou cheio de amargor... porque foi arruinado; humilhado, porque foi entregue à morte; esmagado, porque foi aniquilado. Apoderou-se de um corpo e viu-se diante de Deus; agarrou-se à terra e encontrou o céu; apropriou-se do que via e foi derrotado por causa do Invisível. "Ó morte, onde está o teu aguilhão? Inferno, onde está a tua vitória?" (1 Co 15, 55). Cristo ressuscitou e foste arruinado! Cristo ressuscitou e os demónios foram precipitados! Cristo ressuscitou e os anjos estão em júbilo! Cristo ressuscitou e já não há mortos nos túmulos porque Cristo, ressuscitado dos mortos, tornou-se as primícias dos que tinham adormecido. A Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos! Amen.
São João Crisóstomo

quinta-feira, abril 05, 2007

FELIZ PÁSCOA


Que nesta Páscoa possamos meditar na Paixão, Morte e Ressurreição daquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida.

A Paixão está associada ao Caminho de sofrimento que nós temos de aceitar, enquanto fiés a Cristo; recordemos que Ele nos disse: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me" (Lucas 9, 23). Recordemos que Ele também nos disse que não somos desde mundo, por isso quem é desde mundo irá-nos perseguir para que nos afastemos do caminho que leva à Salvação e que é só um: o da Cruz. O próprio Pedro tentou o Senhor para que este não cumprisse a sua missão: " Deus te livre, Senhor! Isso nunca te há-de acontecer!" (Mateus 16, 22); isto passou-se quando Jesus revelou o que teria de sofrer. Por isso, é necessário aceitar o sofrimento com fé recordando as palavras do Mestre: " Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua " (Lucas 22, 42). Também São Paulo nos ensina que: "De bom grado, portanto, prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. Por isso me comprazo nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, por Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte" (2 Coríntios 12, 9-10). Paulo tem esta afirmação, porque antes o próprio Senhor lhe tinha dito: "Basta-te a minha graça, porque a força manifesta-se na fraqueza".

Em relação à Morte, podemos associar com a Verdade, pois nós sabemos que em Cristo, a morte não tem a última palavra, porque a Verdade é só uma: "Em verdade, em verdade vos digo: chega a hora - e é já - em que os mortos hão-de ouvir a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão" (João 5, 25). Lembremos também que só aqueles que praticaram boas obras é que ouvirão a voz de Jesus, isto porque: "O Pai... julga cada um consoante as suas obras...e fostes resgatados pelo sangue precioso de Cristo" (1 Pedro 1, 17-19).

Por último, é por demais evidente a comparação entre a Ressurreição e a Vida. Bastam estas palavras do Salvador: "Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em mim, mesmo que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá para sempre. Crês nisto?" (João 11, 25-26). Cremos também nós nisto? Façamos nossas as palavras de Marta: "Sim, ó Senhor; eu creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus que havia de vir ao mundo" (João 11, 27), e também as dos habitantes da Samaria: "nós próprios ouvimos e sabemos que Ele é verdadeiramente o Salvador do mundo" (João 4, 42).

Nelson Viana

quarta-feira, abril 04, 2007

Adquirir o Espírito Santo

É na aquisição do Espírito Santo que consiste o verdadeiro objectivo da nossa vida cristã; a oração, as vigílias, o jejum, a esmola e as outras acções virtuosas feitas em nome de Cristo não são mais do que meios para o adquirir... Sabeis o que é adquirir dinheiro? Com o Espírito Santo, é parecido.
Para a gente comum, o objectivo da vida consiste na aquisição de dinheiro, no ganho. Além disso, os nobres desejam adquirir honras, sinais de distinção e outras recompensas concedidas por serviços prestados ao Estado. A aquisição do Espírito Santo é também um capital, mas um capital eterno, fonte de graças, semelhante aos capitais temporais e que se obtém pelos mesmos processos. Nosso Senhor Jesus Cristo, o homem-Deus, compara a nossa vida a um mercado e a nossa actividade na terra a um comércio. Ele recomenda a todos: "Façam render até que eu volte" (Lc 19, 13); e S. Paulo escreve: "Tirai bom partido do tempo presente porque os nossos dias são incertos" (Ef 5, 16). Por outras palavras: Despachai-vos para obterdes bens celestes negociando mercadorias terrestres. Essas mercadorias não são senão as acções virtuosas praticadas em nome de Cristo e que nos conferem a graça do Espírito Santo.
S. Serafim de Sarov (1759-1833)
Monge russo

segunda-feira, abril 02, 2007

Renunciar a todos os bens

São Francisco de Assis renuncia aos seus bens terrenos numa pintura atribuida a Giotto di Bondone
Segundo a tradição dos Padres e a autoridade das Sagradas Escrituras, as renúncias são em número de três. A primeira diz respeito às coisas materiais; devemos desprezar as riquezas e todos os bens deste mundo. Pela segunda, repudiamos a nossa antiga maneira de viver, os vícios e as paixões da alma e da carne. Pela terceira, distanciamos o nosso espírito de todas as realidades presentes e visíveis, para contemplarmos apenas as realidades futuras e desejarmos apenas as realidades invisíveis. Estas renúncias devem ser observadas em conjunto, como o Senhor ordenou a Abraão quando lhe disse: “Deixa a tua terra, a tua família e a casa de teu pai” (Gn 12, 1).
“Deixa a tua terra” – isto é, as riquezas da terra –, disse em primeiro lugar. Em segundo lugar disse: “Deixa a tua família”, isto é, os hábitos e os vícios passados que, agregando-se a nós desde o dia em que nascemos, estão estreitamente unidos a nós por uma espécie de parentesco. E, em terceiro lugar, “Deixa a casa de teu pai”, quer dizer, todas as ligações a este mundo que se apresentam aos nossos olhos.
Contemplemos, como diz o Apóstolo Paulo, “não as coisas visíveis, mas as invisíveis, porque as visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas” (2 Cor 4, 18); “nós, porém, somos cidadãos do céu” (Fil 3, 20). Sairemos, pois, da casa do nosso antigo pai, daquele que era nosso pai segundo o homem velho, desde o dia em que nascemos, desde que “éramos por natureza filhos da ira, como os demais” (Ef 2, 3), e transferiremos toda a nossa atenção, todo o nosso espírito, para as coisas celestes. Então, a nossa alma elevar-se-á até ao mundo invisível, pela meditação constante das coisas de Deus e pela contemplação espiritual.
João Cassiano (c. 360-435),
Fundador de convento em Marselha
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