quinta-feira, junho 28, 2007

Perdoar de todo o coração

Jesus perdoa a mulher adúltera (São João 8, 1-11)
Sabeis o que dizemos a Deus na oração antes da comunhão: “Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Preparai-vos interiormente a perdoar, porque estas palavras, reencontrá-las-eis na oração. Como as ireis dizer? Talvez não as digais? Finalmente, esta é verdadeiramente a questão: direis estas palavras, sim ou não? Tu detestas o teu irmão e pronuncias: “Perdoai-nos como nós perdoamos”?... Eu evito essas palavras, dirás tu. Mas então, o que é que rezas? Prestai muita atenção, meus irmãos. Quando ides rezar, perdoai de todo o vosso coração!
Olhai Cristo pregado na cruz; escutai-o a rezar: “Pai, perdoai-lhes, porque eles não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). Dirás, sem dúvida: ele podia fazê-lo, mas eu não. Eu sou um homem, e ele, ele é Deus. Tu não podes imitar Cristo? Então, porque é que o apóstolo Pedro escreveu: “Cristo sofreu por vós, deixou-vos o exemplo, para que sigais os seus passos” (1Ped 2, 21)? Porque é que o apóstolo Paulo nos escreveu: “Sede imitadores de Deus como filhos muito amados” (Ef 5, 1)? Porque é que o próprio Senhor disse: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29)? Nós usamos rodeios, procuramos desculpas, quando reclamamos impossível o que não queremos fazer.
Meus irmãos, não acusemos Cristo por nos ter dado mandamentos tão difíceis, impossíveis de realizar. Com toda a humildade, digamos antes com o salmista: “Tu és justo, Senhor, e o teu mandamento é justo” (Sl 118, 137).
São Cesário de Arles (470-543), Monge e Bispo

quarta-feira, junho 27, 2007

"Partilhar os sofrimentos dos outros"

Sinto que, sem cessar, por todo o lado, a Paixão de Cristo está a acontecer de novo. Estamos nós prontos para participar nesta paixão? Estamos nós prontos para partilhar os sofrimentos dos outros, não apenas onde domina a pobreza, mas também por toda a parte da terra? Parece-me que a grande miséria e o sofrimento são mais difíceis de resolver no Ocidente. Ao encontrar alguém esfomeado na rua, oferecendo-lhe uma tigela de arroz ou uma fatia de pão, posso apaziguar-lhe a fome. Mas aquele que foi pisado, que não se sente desejado, amado, que vive no medo, que se sente rejeitado pela sociedade, esse experimenta uma forma de pobreza bem mais profunda e dolorosa. E é muito mais difícil encontrar remédio para ela.
As pessoas têm fome de Deus. As pessoas estão ávidas de amor. Temos consciência disso? Sabemos disso? Vemos isso? Temos nós olhos para o ver? Se muitas vezes o nosso olhar se passeia sem se fixar. Como se apenas atravessássemos o mundo. Devemos abrir os olhos e ver.

Madre Teresa de Calcutá

segunda-feira, junho 25, 2007

"Pedi, e ser-vos-á dado; procurai, e encontrareis; batei, e hão-de abrir-vos." Mateus 7, 7

Esforça-te por agradar ao Senhor, espera-o interiormente sem te cansares, procura-o por meio dos teus pensamentos, exerce violência sobre a tua vontade e as suas decisões, domina-as para que tendam continuamente para Ele. E verás como Ele vem junto de ti e aí estabelecerá a sua morada (Jo 14,23). Aí ficará, observando o teu raciocínio, os teus pensamentos, as tuas reflexões, examinando a forma como o procuras, se é com toda a tua alma ou com moleza e negligência. E, quando vir que o procuras com ardor, imediatamente se manifestará a ti, te aparecerá, te concederá o seu auxílio, te dará a vitória e te livrará dos teus inimigos. Com efeito, quando tiver visto como tu o procuras, como nele depositas continuamente toda a tua esperança, então instruir-te-á, ensinar-te-á a verdadeira oração, dar-te-á essa caridade verdadeira que é Ele mesmo. Tornar-se-á então tudo para ti: paraíso, árvore da vida, pérola preciosa, coroa, arquitecto, cultivador, um ser sujeito ao sofrimento mas não abatido por ele, homem, Deus, vinho, água viva, ovelha, esposo combatente, armadura, Cristo “tudo em todos” (1 Co 15, 28).
Tal como uma criança não pode alimentar-se nem cuidar de si mesma mas só pode olhar chorando para sua mãe, até que seja tocada de compaixão e se ocupe dela, assim as almas crentes esperam sempre em Cristo e lhe atribuem toda a justiça. Tal como o sarmento seca se for separado da videira (Jo 15, 6), assim faz aquele que quer ser justo sem Cristo. Tal como o que é “um salteador e um ladrão que não entra pela porta mas passa por outro sítio” (Jo 10, 1), assim acontece com o que se quer tornar justo sem aquele que justifica.
São Macário (? - 405), Monge no Egipto

sábado, junho 23, 2007

Solenidade da Natividade de São João Baptista

"Entretanto, chegou o dia em que Isabel devia dar à luz e teve um filho. Os seus vizinhos e parentes, sabendo que o Senhor manifestara nela a sua misericórdia, rejubilaram com ela. Ao oitavo dia, foram circuncisar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias. Mas, tomando a palavra, a mãe disse: «Não; há-de chamar-se João.» Disseram-lhe: «Não há ninguém na tua família que tenha esse nome.» Então, por sinais, perguntaram ao pai como queria que ele se chamasse. Pedindo uma placa, o pai escreveu: «O seu nome é João.» E todos se admiraram. Imediatamente a sua boca abriu-se, a língua desprendeu-se-lhe e começou a falar, bendizendo a Deus. O temor apoderou-se de todos os seus vizinhos, e por toda a montanha da Judeia se divulgaram aqueles factos. Quantos os ouviam retinham-nos na memória e diziam para si próprios: «Quem virá a ser este menino?» Na verdade, a mão do Senhor estava com ele. Entretanto, o menino crescia, o seu espírito robustecia-se, e vivia em lugares desertos, até ao dia da sua apresentação a Israel." (São Lucas 1,57-66.80.)
O nascimento de João e o de Jesus, e as suas Paixões, marcaram a diferença entre eles. Com efeito, João nasce quando o dia começa a diminuir; Cristo, quando o dia começa a crescer. A diminuição do dia, para um, é o símbolo da sua morte violenta. O seu crescimento, para o outro, a exaltação da cruz.
Há também um sentido secreto que o Senhor revela... em relação a esta palavra de João acerca de Jesus Cristo: «É necessário que Ele cresça e eu diminua». Toda a justiça humana... se consomara em João; acerca dele dizia a Verdade: «Entre os filhos das mulheres, não surgiu nenhum maior do que João Baptista» (Mt 11, 11). Nenhum homem teria, pois, podido ultrapassá-lo; mas ele era apenas um homem. Ora na nossa graça cristã, é-nos pedido que não nos glorifiquemos no homem, mas se alguém se glorifica que se glorifique no Senhor» (2 Co 10, 17): o homem no seu Deus; o servidor no seu mestre. É por este motivo que João grita : «É necessário que Ele cresça e eu diminua.» Claro que Deus não diminuiu nem aumentou em Si mesmo, mas nos homens: à medida que progride o verdadeiro fervor, a graça divina cresce e o poder humano diminui, até que chegue à sua conclusão o reino de Deus, que está em todos os membros de Cristo, e no qual toda a tirania, toda a autoridade, todo o poder estão mortos, e Deus é tudo em todos (Col 3, 11).
João, o evangelista, diz: «Havia a verdadeira luz, que ilumina todo o homem vindo a este mundo» (1, 9); por seu lado, João Baptista diz: «Nós recebemos tudo da Sua plenitude» (Jo 1, 16). Assim que a luz que é em si própria sempre total, cresce contudo em quem por ela é iluminado, esse diminiu em si mesmo, à medida que se vai abolindo nele o que estava sem Deus. É que o homem sem Deus nada pode, a não ser pecar, e o seu poder humano diminiu quando triunfa a graça divina, destruídora do pecado. A fraqueza da criatura cede ao poder do Criador e a vaidade dos nossos afectos egoístas dissolve-se diante do amor universal, enquanto João Baptista do fundo da nossa angústia, nos grita a misericórdia de Jesus Cristo: «É necessário que Ele cresça e eu diminua».
Santo Agostinho

quinta-feira, junho 21, 2007

Seguir o Mestre

Simão de Cirene carrega a Cruz de Cristo (São Lucas 23, 26)
Meus amigos, tomemos a aparência daquele que nos deu a vida. Ele que era rico, empobreceu-se a si mesmo. Ele que estava colocado no alto, abaixou a sua grandeza. Ele que habitava as alturas, não teve sítio onde apoiar a cabeça. Ele que devia vir sobre as nuvens, montou um jumento para entrar em Jerusalém. Ele que é Deus e filho de Deus, tomou a aparência de servo.
Ele que é o repouso para todos os trabalhos, fatigou-se com o incómodo do caminho. Ele que é a fonte que estanca a sede, teve sede e pediu água para beber. Ele que é a saciedade que satisfaz a nossa fome, teve fome quando jejuou no deserto para ser tentado. Ele que é o velador que nunca dorme, adormeceu e deitou-se no barco no meio do mar. Ele que é servido na tenda de seu Pai, deixou-se servir pelas mãos de homens. Ele que é o médico de todos os homens doentes, teve as suas mãos perfuradas pelos cravos. Ele cuja boca anunciava coisas boas, deram-lhe a beber o fel. Ele que não tinha feito mal a ninguém, foi açoitado e suportou o ultraje. Ele que tinha feito viver os mortos, entregou-se a si mesmo à morte na cruz.
Nosso Vivificador, ele próprio, experimentou todos estes abaixamentos; abaixemo-nos nós mesmos, meus amigos.
Santo Afraate (? – cerca 345)
Monge e Bispo em Ninive

terça-feira, junho 19, 2007

“Eu creio! Ajuda a minha pouca fé”

Inclina o teu ouvido e escuta, abre os teus olhos e vê os prodígios que são mostrados pela fé. Vem formar olhos novos, criar orelhas escondidas. Foste convidado a escutar coisas escondidas…; foste chamado a ver realidades espirituais… Vem ver o que ainda não és, e renova-te entrando na nova criação.
A sabedoria estava com o teu Criador desde as suas primeiras obras (Pr 8, 22). Mas na segunda criação a fé estava com Ele; neste segundo parto tomou a fé por auxiliar. A fé acompanha Deus em todas as coisas, e hoje, ele não faz nada de novo sem ela. Ter-lhe-ia sido fácil fazer-te nascer da água e do Espírito (Jo 3, 5) sem ela, e contudo, não te fez nascer neste segundo nascimento antes que tivesses recebido o símbolo da fé, o credo. Ele podia renovar-te, e de velho, te fazer novo, e contudo ele não te muda e não te renova antes de ter recebido de ti a fé em caução. É exigida a fé a quem é baptizado, e é então que, da água, ele recebe tesouros. Sem a fé, o baptismo é a água; sem a fé, os mistérios vivificantes são pão e água; sem o olho da fé, o homem antigo aparece unicamente aquilo que é; sem o olho da fé, os mistérios são vulgares e os prodígios do Espírito são vis.
A fé olha, contempla e considera secretamente a força que está escondida nas coisas… Porque aqui está: tu trazes sobre a mão a parte do mistério que, pela sua natureza, é pão vulgar; a fé olha-o como o corpo do Único… O corpo vê o pão, o vinho, o óleo, a água, mas a fé obriga o seu olhar a ver espiritualmente o que não vê corporalmente, quer dizer, a comer o Corpo no lugar do pão, a beber o Sangue no lugar do vinho, a ver o baptismo do Espírito no lugar da água e a força de Cristo no lugar do óleo.
Filoxeno de Mabboug (?-cerca 523)
Bispo na Síria

sábado, junho 16, 2007

«A tua fé te salvou. Vai em paz.»

Evangelho segundo São Lucas 7, 36-50.8, 1-3

“Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes” (Mt 9, 12). Mostra portanto ao médico a tua ferida, para poderes ser curado. Mesmo se tu não a mostrares, ele conhece-a, mas ele exige de ti que tu o faças ouvir a tua voz. Limpa as tuas feridas com as tuas lágrimas. Foi assim que esta mulher da qual fala o evangelho se desembaraçou do seu pecado e da má reputação do seu desvio; foi assim que ela se purificou da sua falta, lavando os pés de Jesus com as suas lágrimas.Possas tu reservar também para mim, Jesus, o desvelo de lavar os teus pés, que tu sujaste enquanto caminhavas em mim!... Mas onde encontrarei eu a água viva com a qual poderei lavar os teus pés? Se não tenho água, tenho as minhas lágrimas.
Fazei que lavando os teus pés com elas, eu possa purificar-me a mim próprio! Como fazer de modo que digas de mim: “Os seus numerosos pecados são-lhe perdoados, porque ela amou muito”? Confesso que a minha dívida é considerável e que “já fui resgatado”, eu que fui arrancado do barulho das querelas da praça pública e das responsabilidades do governo para ser chamado ao sacerdócio. Por consequência, eu temo ser considerado um ingrato se amo menos, dado que ele já me resgatou.
Não me posso comparar à importância dessa mulher que foi justamente preferida ao fariseu Simão que recebia o Senhor em sua casa. Entretanto, a todos os que quiserem merecer o perdão, ela dá uma instrução, beijando os pés de Cristo, lavando-os com as suas lágrimas, enxugando-os com os seus cabelos, ungindo-os com perfume… se não a podemos igualar, o Senhor Jesus sabe vir em socorro dos fracos. Onde não há ninguém que saiba preparar uma refeição, levar o perfume, trazer consigo uma fonte de água viva (Jo 4, 10), vem ele próprio.
Santo Ambrósio (cerca 340-397)
Bispo de Milão e Doutor da Igreja

sexta-feira, junho 15, 2007

A Arte de Calar

CALAR SOBRE A NOSSA PRÓPRIA PESSOA, É HUMILDADE!
CALAR SOBRE OS DEFEITOS DOS OUTROS, É CARIDADE!
CALAR QUANDO ESTAMOS SOFRENDO, É HEROÍSMO!
CALAR DIANTE DO SOFRIMENTO ALHEIO, É COVARDIA!
CALAR DIANTE DA INJUSTIÇA, É FRAQUEZA!
CALAR QUANDO O OUTRO ESTÁ FALANDO, É DELICADEZA!
CALAR, QUANDO O OUTRO ESPERA UMA PALAVRA, É OMISSÃO!
CALAR, E NÃO FALAR PALAVRAS INÚTEIS, É PENITÊNCIA!
CALAR, QUANDO NÃO HÁ NECESSIDADE DE FALAR, É PRUDÊNCIA!
CALAR, QUANDO DEUS NOS FALA AO CORAÇÃO, É SILÊNCIO!
CALAR DIANTE DO MISTÉRIO QUE NÃO ENTENDEMOS, É SABEDORIA!

quarta-feira, junho 13, 2007

Ajudem o Darfur

O genocídio continua no Darfur. Já se fala numa catástrofe pior do que o Ruanda.
É preciso agir! No terreno temos várias organizações que tentam ser uma gota de água no meio de tanta tragédia. Cá, em Portugal, e um pouco por todo o mundo tentamos ajudar através de campanhas que informem e sensibilizem as pessoas para o que está a acontecer a este povo.
Toda a ajuda é precisa. Em Portugal, ainda estamos no início de uma campanha que visa informar, sensibilizar e fazer com que cada um de nós possa agir em prol dos direitos do povo sudanês. Se tiver ideias ou se se quiser juntar à campanha, basta ir a http://plataformafrica.blogspot.com/.

Quando foi a campanha de Timor, no início, a maioria da pessoas não acreditava que se pudesse fazer alguma coisa. Mas fez-se. Nas comemorações do 10 de Junho, o presidente timorense, Ramos Horta, agradeceu a Portugal por ter contribuído massivamente para que Timor se tornasse numa democracia.
Saudações
Pe. Leonel
Fé e Missão (Missionários Combonianos)

segunda-feira, junho 11, 2007

"Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso" Lc 6, 36

A volta do filho pródigo (Lucas 15, 11-32)
Se a nossa caridade fosse acompanhada de compaixão e de pena, não daríamos tanta atenção aos defeitos do próximo, de acordo com a palavra que diz: "A caridade cobre uma multidão de pecados" (1Pe 4, 8) e também: "A caridade não se atarda no mal, desculpa tudo" (1Co 13, 5.7). Por isso, se tivéssemos caridade, essa mesma caridade cobriria toda a falta e nós seríamos como os santos quando vêem os defeitos dos homens. Será então que os santos são cegos a ponto de não verem os pecados? Mas haverá quem deteste tanto o pecado como os santos? E, contudo, eles não odeiam o pecador, não o julgam, não o evitam. Pelo contrário, compadecem-se dele, exortam-no, consolam-no, tratam-no como a um membro doente; fazem tudo para o salvar... Quando uma mãe tem um filho deficiente, não se afasta dele com horror mas tem gosto em vesti-lo bem e em tudo fazer para o embelezar. É assim que os santos protegem sempre o pecador e se ocupam dele para o corrigirem no momento oportuno, para o impedirem de prejudicar outrem e, assim, para eles próprios progredirem na caridade de Cristo...
Encontro do Papa João Paulo II com Ali Agca
Adquiramos, pois, também nós, a caridade; adquiramos a misericórdia para com o próximo, para nos defendermos da terrível maledicência, do julgamento e do desprezo. Prestemos socorro uns aos outros, como se fossem os nossos próprios membros... Porque "somos membros uns dos outros", diz o apóstolo Paulo (Rm 12, 5); "se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele" (1Co 12, 27)... Numa palavra, tende cuidado, cada qual à sua maneira, em permanecer unidos uns aos outros. Porque, quanto mais unido se está ao próximo, tanto mais se está unido a Deus.
Doroteu de Gaza (cerca de 500 - ?)
Monge na Palestina

domingo, junho 10, 2007

"O morto sentou-se e começou a falar"

"Em seguida, Jesus dirigiu-se a uma cidade chamada Naim, indo com Ele os seus discípulos e uma grande multidão. Quando estavam perto da porta da cidade, viram que levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que era viúva; e, a acompanhá-la, vinha muita gente da cidade. Vendo-a, o Senhor compadeceu-se dela e disse-lhe: «Não chores.» Aproximando-se, tocou no caixão, e os que o transportavam pararam. Disse então: «Jovem, Eu te ordeno: Levanta-te!» O morto sentou-se e começou a falar. E Jesus entregou-o à sua mãe. O temor apoderou-se de todos, e davam glória a Deus, dizendo: «Surgiu entre nós um grande profeta e Deus visitou o seu povo!» E a fama deste milagre espalhou-se pela Judeia e por toda a região." (São Lucas 7,11-17)
Que ninguém duvide, se é cristão, que ainda hoje há mortos que ressuscitam. Certamente que todo o homem tem olhos com os quais pode ver mortos ressuscitarem da mesma maneira que ressuscitou o filho desta viúva de que se acabou de falar no Evangelho. Mas nem todos podem ver ressuscitar homens que morreram espiritualmente; para isso é preciso ter-se já ressuscitado interiormente. É mais importante ressuscitar alguém que deve viver para sempre do que ressuscitar alguém que vai morrer outra vez.
A mãe deste jovem, esta viúva, foi arrebatada de alegria ao ver o filho ressuscitar. A nossa Mãe, a Igreja, rejubila também ao ver todos os dias a ressurreição espiritual dos seus filhos. O filho da viúva estava morto com a morte do corpo; mas aqueles estão com a morte da alma. Derramavam-se lágrimas por causa da morte visível do primeiro; mas ninguém se preocupava com a morte invisível destes últimos, nem sequer a viam. O único que não ficou indiferente diante disso foi aquele que conhecia esses mortos; só o que conhecia esses mortos lhes podia devolver a vida. Com efeito, se o Senhor não tivesse vindo para ressuscitar os mortos, o apóstolo Paulo não teria dito: "Levanta-te, tu que dormes, ergue-te de entre os mortos e Cristo te iluminará!" (Ef 5,14)
Santo Agostinho

sábado, junho 09, 2007

Paciência na tribulação

O caminho de Deus é uma cruz quotidiana. Nunca ninguém chegou ao céu confortavelmente. Sabemos aonde nos leva essa via do conforto. Deus nunca deixa sem inquietação quem se consagra a Ele de todo o coração; concede-lhe a inquietação da verdade. É aliás nisso que se percebe que Deus guarda um tal homem: condu-lo através de aflições.
A Providência nunca deixa cair na mão dos demónios aqueles que passam a vida em provação. Sobretudo se beijam os pés dos seus irmãos, se ocultam as suas faltas (1Pd 4, 8) e as escondem como se fossem as suas próprias faltas. Aquele que quer estar no mundo sem inquietação, aquele que tem esse desejo e que, ao mesmo tempo, procura trilhar o caminho da virtude, esse saiu do caminho. É que os justos, não só lutam com toda a vontade para cumprir as boas obras, mas lutam também contra si nas tentações; assim se comprova a sua paciência.
Santo Isaac o Sírio (sec. VII)

quinta-feira, junho 07, 2007

Festa do Corpo de Deus

"Mas as multidões, que tal souberam, seguiram-no. Jesus acolheu-as e pôs-se a falar-lhes do Reino de Deus, curando os que necessitavam. Ora, o dia começava a declinar. Os Doze aproximaram-se e disseram-lhe: «Despede a multidão, para que, indo pelas aldeias e campos em redor, encontre alimento e onde pernoitar, pois aqui estamos num lugar deserto.» Disse-lhes Ele: «Dai-lhes vós mesmos de comer.» Retorquiram: «Só temos cinco pães e dois peixes; a não ser que vamos nós mesmos comprar comida para todo este povo!» Eram cerca de cinco mil homens. Jesus disse aos discípulos: «Mandai-os sentar por grupos de cinquenta.» Assim procederam e mandaram-nos sentar a todos. Tomando, então, os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu, abençoou-os, partiu-os e deu-os aos discípulos, para que os distribuíssem à multidão. Todos comeram e ficaram saciados; e, do que lhes tinha sobrado, ainda recolheram doze cestos cheios." (São Lucas 9,11-17)
Deus todo poderoso e eterno, eis que me aproximo do sacramento do teu Filho único, nosso Senhor Jesus Cristo. Doente, venho ao médico de quem depende a minha vida; manchado, venho à fonte da misericórdia; cego, venho ao foco da luz eterna; pobre e desprovido de tudo, venho ao Senhor do céu e da terra.
Imploro, pois, a tua imensa, a tua inesgotável generosidade, a fim de que te dignes curar as minhas enfermidades, lavar as minhas manchas, iluminar a minha cegueira, cumular a minha indigência, cobrir a minha nudez; e que, assim, eu possa receber o pão dos anjos (Sl 77, 25), o Rei dos reis, o Senhor dos senhores (1Tm 6,15), com toda a reverência e humildade, com toda a contrição e devoção, com toda a pureza e fé, com toda a firmeza de propósito e rectidão de intenção que a salvação da minha alma requer.
Concede-me, suplico-te, que não receba apenas o sacramento do Corpo e Sangue do Senhor, mas toda a força e eficácia desse sacramento. Deus cheio de doçura, concede-me que receba tão bem o Corpo do teu Filho único, nosso Senhor Jesus Cristo, esse corpo material que Ele recebeu da Virgem Maria, que mereça ser incorporado no seu Corpo místico e contado entre os seus membros.
Pai cheio de amor, concede-me que esse Fiho bem amado que me preparo para receber agora da forma velada que convém ao meu estado de peregrino, eu possa um dia contemplar de rosto descoberto e para a eternidade, Ele que, sendo Deus, vive e reina contigo, na unidade do Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amen.
S. Tomás de Aquino (1225-1274)
Teólogo dominicano, Doutor da Igreja

quarta-feira, junho 06, 2007

Alegria Cristã

É muito importante apreender o segredo da alegria insondável que está em Jesus e que lhe é própria. Se Jesus irradia uma tal paz, uma tal segurança, uma tal alegria, uma tal disponibilidade, é por causa do amor inefável com que ele se sabe amado por seu Pai. Aquando do seu baptismo nas margens do Jordão, este amor, presente desde o primeiro instante da sua encarnação, manifesta-se: “Tu és o meu Filho muito amado; em ti pus todo o meu enlevo” (Lc 3, 22). Esta certeza é inseparável da consciência de Jesus. É uma presença que nunca o deixa só (Jo 16, 32). É um conhecimento íntimo que o preenche: “Assim como o Pai me conhece também eu conheço o Pai” (Jo 10, 15). É uma partilha incessante e total: “E tudo o que é meu é Teu, e tudo o que é Teu é meu” (Jo 17,10)… “Tu me amaste antes da fundação do mundo” (Jo 17, 24). Há ali uma relação incomunicável de amor, que se confunde com a sua existência de Filho e que é o segredo da vida trinitária: o Pai aparece aí como aquele que se dá ao Filho, sem reserva e continuamente, num ardor de alegre gratidão, no Espírito Santo.
E eis que os discípulos, e todos os que acreditam em Cristo, são chamados a participar desta alegria. Jesus quis que eles tivessem em si mesmos a plenitude da sua alegria (Jo 17, 13).: “Dei-lhes a conhecer o teu nome e dá-lo-ei a conhecer, para que o amor com que me amaste esteja neles e eu esteja neles também” (Jo 17,26).
Esta alegria de habitar no amor de Deus começa aqui em baixo. É a do Reino de Deus. Mas ela é concedida por uma via escarpada, que exige uma confiança total no Pai e no Filho, e uma preferência dada ao Reino. A mensagem de Jesus promete antes de tudo a alegria, esta alegria exigente; não começa ela pelas Bem-aventuranças? “Felizes, vós, os pobres, porque é vosso o Reino de Deus. Felizes vós, os que agora tendes fome, porque sereis saciados. Felizes vós, os que agora chorais, porque haveis de rir”.
Paulo VI, Papa de 1963 a 1978

segunda-feira, junho 04, 2007

«Deus cura-te de toda a enfermidade» (Sl 102, 3)

Todas as tuas doenças serão curadas, não temas. Dirás que elas são grandes; mas o médico é maior. Para um médico Todo Poderoso, não há doenças incuráveis. Deixa-te simplesmente tratar, não rejeites a Sua mão; Ele sabe o que tem a fazer. Não te alegres só quando Ele actua com doçura, mas suporta-o também quando Ele talha. Aceita a dor do remédio pensando na saúde que te vai restituir.
Vede, meus irmãos, tudo o que suportam os homens nas suas doenças físicas para prolongarem a sua vida por alguns dias... tu, ao menos, não sofres por um resultado duvidoso: Aquele que te prometeu a saúde não se pode enganar. Porque é que os médicos por vezes se enganam? Porque não criaram o corpo que tratam. Mas Deus fez o teu corpo, Deus fez a tua alma. Ele sabe como recriar aquilo que criou; Ele sabe como reformar aquilo que formou. Tu só tens de te abandonar nas Suas mãos de médico... suporta, pois, as suas mãos, ó alma que «o bendizes e não esqueces nenhum dos seus benefícios: Ele cura-te de todas as doenças» (Sl 102, 2-3).
Aquele que te fez para nunca estares doente, se tu tiveres querido guardar os Seus preceitos, não há-de curar-te? Aquele que fez os anjos e que, recriando-te, te fará igual aos anjos, não há-de curar-te? Aquele que fez o céu e a terra não há-de curar-te, depois de te ter feito à sua imagem? (Gn 1,26)
Ele curar-te-á, mas é preciso que tu consintas em ser curado. Ele cura perfeitamente todo o doente, mas não o cura contra a sua vontade. A tua saúde é Cristo...
Santo Agostinho

sexta-feira, junho 01, 2007

Santíssima Trindade

«Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender por agora. Quando Ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade completa. Ele não falará por si próprio, mas há-de dar-vos a conhecer quanto ouvir e anunciar-vos o que há-de vir. Ele há-de manifestar a minha glória, porque receberá do que é meu e vo-lo dará a conhecer. Tudo o que o Pai tem é meu; por isso é que Eu disse: 'Receberá do que é meu e vo-lo dará a conhecer'.» (São João 16,12-15)

A verdade sobre a Santíssima Trindade tinha-me sido exposta por teólogos, mas nunca a compreendi como a compreendo agora, depois daquilo que Deus me mostrou. Foram-me representadas três Pessoas distintas, que podem ser consideradas e com quem se pode conviver em separado. Percebi depois que só o Filho encarnou, o que mostra claramente a realidade desta distinção. Estas Pessoas conhecem-Se, amam-Se e comunicam entre Si. Mas, se as três Pessoas são distintas, como dizemos que têm, todas três, uma mesma essência? Com efeito, é nisso que acreditamos; trata-se de uma verdade absoluta, pela qual estaria disposta a sofrer mil vezes a morte. Estas três Pessoas têm um único querer, um só poder, uma única soberania, de tal maneira que nenhuma delas pode coisa alguma sem as outras, e que há um só Criador de tudo quanto foi criado. Poderia o Filho criar uma formiga que fosse sem o Pai? Não, porque eles têm um mesmo poder. E o mesmo acontece com o Espírito Santo.
Assim, há um só Deus todo-poderoso, e as três Pessoas constituem uma só Majestade. Poderá alguém amar o Pai sem amar o Filho e o Espírito Santo? Não, mas aquele que se torna agradável a uma destas três Pessoas torna-se agradável às três, e aquele que ofende uma delas ofende as outras duas. Poderá o Pai existir sem o Filho e sem o Espírito Santo? Não, porque têm uma mesma essência, e onde se encontra uma Pessoa encontram-se as outras duas, porque não podem separar-se.
Como é então que vemos três Pessoas distintas? Como é que o Filho encarnou, sem que o Pai e o Espírito Santo tenham encarnado? Eu não o compreendo; os teólogos sabem explicá-lo. O que eu sei é que as três Pessoas concorreram para esta obra maravilhosa. De resto, não me detenho durante muito tempo em questões deste género; o meu espírito passa imediatamente à verdade de que Deus é todo-poderoso e de que, tendo-o querido, pôde fazê-lo, e poderia, da mesma maneira, fazer tudo o que quisesse. Quanto menos compreendo estas coisas, mais acredito nelas, e mais devoção delas retiro. Bendito seja Deus para sempre! Ámen.
Santa Teresa de Ávila (1515-1582)
Carmelita, Doutora da Igreja
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