O sucessor de Pedro sabe que, na sua pessoa e na sua actividade, é a graça de Deus que suporta, vivifica e adorna tudo; e, perante o mundo inteiro, é na troca de amor entre Jesus e ele, Simão, filho de João, que a Igreja encontra o seu apoio, como um suporte invisível e visível: Jesus invisível aos olhos da carne e o Papa, Vigário de Cristo, visível aos olhos do mundo inteiro. Pesando bem este mistério de amor entre Jesus e o seu Vigário, que honra e que doçura para mim mas, ao mesmo tempo, que motivo de confusão para a pequenez, para o nada que eu sou!
A minha vida deve ser toda de amor por Jesus e, ao mesmo tempo, total efusão de bondade e de sacrifício para com cada alma e para com o mundo inteiro.
Neste episódio, a passagem é directa para a lei do sacrifício. É o próprio Jesus que o anuncia a Pedro: "Em verdade, em verdade, te digo: quando eras jovem, punhas o teu cinto e ias para onde querias; quando fores velho, estenderás as mãos, outro atará o teu cinto e levar-te-á para onde não quererias". (Jo 21, 18)
Pela graça do Senhor, ainda não entrei nessa "velhice" mas, com os meus oitenta anos agora cumpridos, já estou no patamar. Devo por isso estar pronto para este último período da minha vida em que me esperam as limitações e os sacrifícios, até ao sacrifício da vida corporal e à abertura para a vida eterna.
Oh Jesus!, eis-me pronto a estender as mãos, as minhas mãos já trémulas e débeis, e a permitir que outro me ajude a vestir e me apoie no caminho. Senhor, tu acrescentaste a Pedro: "levar-te-ão onde não quererias". Oh! após tantas graças de que beneficiei durante a minha longa vida, já não há nada que eu não queira! Foste tu que me abriste o caminho, oh Jesus! "Seguir-te-ei onde quer que tu vás" (Mt 8,19).
Beato João XXIII (1881-1963), Papa
Diário da Alma
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