O diabo atacou o primeiro homem, nosso pai, com uma tripla tentação: tentou-o pela gulosice, pela vaidade e pela avidez. A sua tentativa de sedução resultou, pois que o homem, ao dar o seu consentimento, ficou então submisso ao diabo. Tentou-o pela gulosice, mostrando-lhe na árvore o fruto proibido e convidando-o a comê-lo; tentou-o pela vaidade, dizendo-lhe: “sereis como deuses”; tentou-o enfim pela avidez, ao dizer-lhe: “conhecereis o bem e o mal” (Gn 3,5). Porque ser ávido, não é apenas desejar o dinheiro, mas também toda a situação vantajosa, desejar, para além do razoável, toda a situação elevada…
O diabo foi vencido por Cristo que ele tentou de um modo semelhante àquele pelo qual ele tinha vencido o primeiro homem. Como da primeira vez, ele tentou-o pela gulosice: “ordena a estas pedras que se transformem em pães”; pela vaidade: “se és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo”; pelo desejo violento de uma bela situação, quando ele lhe mostra todos os reinos do mundo e lhe diz: “dar-te-ei tudo isto, se caíres a meus pés e me adorares”...
É necessário chamar a atenção para uma coisa na tentação do Senhor: tentado pelo diabo, o Senhor ripostou com os textos da Santa Escritura. Teria podido lançar o seu tentador no abismo pelo Verbo que era ele próprio. E contudo não recorreu ao seu poderoso poder; apenas pôs em primeiro lugar os preceitos da Santa Escritura. Mostra-nos assim como suportar a prova, de modo que, assim que os maus nos fazem sofrer, sejamos impelidos a recorrer à boa doutrina em lugar da vingança. Comparai a paciência de Deus com a nossa impaciência. Nós, quando recebemos injúrias ou sofremos uma ofensa, na nossa fúria vingamo-nos tanto quanto podemos, ou ameaçamos fazê-lo. O Senhor, ele, suporta a adversidade do diabo respondendo-lhe apenas com palavras de paz.
S. Gregório Magno (c 540-604), Papa, Doutor da Igreja
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