Não pode haver progresso na disciplina da Igreja de Cristo? Mas certamente que tem de haver, e progresso considerável! Quem poderá ser tão invejoso dos homens e inimigo de Deus que tente opor-se a ele? Mas desde que se trate de verdadeiro progresso, e não de alterações à fé. É necessário, pois, que aumentem e progridam fortemente, quer num homem só, quer na Igreja inteira, no decurso dos tempos e dos séculos, a inteligência, a ciência e a sabedoria; mas é necessário que cada uma delas progrida segundo a sua natureza própria, isto é, na mesma doutrina, no mesmo sentido, na mesma afirmação.
Que a religião das almas imite, pois, o desenvolvimento dos corpos que, ainda que evoluam e aumentem com o passar dos anos, continuam a ser o que eram. Há grande diferença entre a eclosão da infância e os frutos da velhice, mas é sempre a mesma pessoa, a que passa da infância à idade madura. É sempre o mesmo homem, aquele cuja estatura e cujas maneiras se modificam, mantendo ele a mesma natureza, permanecendo ele uma só e a mesma pessoa. Os membros das crianças são pequenos, os dos jovens são grandes; mas são sempre os mesmos, os que já existiam no embrião.
Também a fé cristã deve seguir estas leis do progresso, a fim de se fortalecer com os anos, de se desenvolver com o tempo, de se enobrecer com a idade. Os nossos pais semearam o fermento da fé para a colheita da Igreja. Seria injusto e chocante que nós, os seus descendentes, em vez do trigo da verdade autêntica, recolhêssemos o erro fraudulento do joio (Mt 13, 24 ss.). Pelo contrário, é justo e é lógico que não haja discordância entre os começos e o fim, e que recolhamos esse trigo que se desenvolveu a partir da sementeira do mesmo trigo. Assim, embora uma parte das primeiras sementes deva evoluir com o tempo, convirá sempre fertilizá-las e aperfeiçoar o seu cultivo.
São Vicente de Lerins (?-antes de 450), Monge
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