sábado, junho 23, 2007

Solenidade da Natividade de São João Baptista

"Entretanto, chegou o dia em que Isabel devia dar à luz e teve um filho. Os seus vizinhos e parentes, sabendo que o Senhor manifestara nela a sua misericórdia, rejubilaram com ela. Ao oitavo dia, foram circuncisar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias. Mas, tomando a palavra, a mãe disse: «Não; há-de chamar-se João.» Disseram-lhe: «Não há ninguém na tua família que tenha esse nome.» Então, por sinais, perguntaram ao pai como queria que ele se chamasse. Pedindo uma placa, o pai escreveu: «O seu nome é João.» E todos se admiraram. Imediatamente a sua boca abriu-se, a língua desprendeu-se-lhe e começou a falar, bendizendo a Deus. O temor apoderou-se de todos os seus vizinhos, e por toda a montanha da Judeia se divulgaram aqueles factos. Quantos os ouviam retinham-nos na memória e diziam para si próprios: «Quem virá a ser este menino?» Na verdade, a mão do Senhor estava com ele. Entretanto, o menino crescia, o seu espírito robustecia-se, e vivia em lugares desertos, até ao dia da sua apresentação a Israel." (São Lucas 1,57-66.80.)
O nascimento de João e o de Jesus, e as suas Paixões, marcaram a diferença entre eles. Com efeito, João nasce quando o dia começa a diminuir; Cristo, quando o dia começa a crescer. A diminuição do dia, para um, é o símbolo da sua morte violenta. O seu crescimento, para o outro, a exaltação da cruz.
Há também um sentido secreto que o Senhor revela... em relação a esta palavra de João acerca de Jesus Cristo: «É necessário que Ele cresça e eu diminua». Toda a justiça humana... se consomara em João; acerca dele dizia a Verdade: «Entre os filhos das mulheres, não surgiu nenhum maior do que João Baptista» (Mt 11, 11). Nenhum homem teria, pois, podido ultrapassá-lo; mas ele era apenas um homem. Ora na nossa graça cristã, é-nos pedido que não nos glorifiquemos no homem, mas se alguém se glorifica que se glorifique no Senhor» (2 Co 10, 17): o homem no seu Deus; o servidor no seu mestre. É por este motivo que João grita : «É necessário que Ele cresça e eu diminua.» Claro que Deus não diminuiu nem aumentou em Si mesmo, mas nos homens: à medida que progride o verdadeiro fervor, a graça divina cresce e o poder humano diminui, até que chegue à sua conclusão o reino de Deus, que está em todos os membros de Cristo, e no qual toda a tirania, toda a autoridade, todo o poder estão mortos, e Deus é tudo em todos (Col 3, 11).
João, o evangelista, diz: «Havia a verdadeira luz, que ilumina todo o homem vindo a este mundo» (1, 9); por seu lado, João Baptista diz: «Nós recebemos tudo da Sua plenitude» (Jo 1, 16). Assim que a luz que é em si própria sempre total, cresce contudo em quem por ela é iluminado, esse diminiu em si mesmo, à medida que se vai abolindo nele o que estava sem Deus. É que o homem sem Deus nada pode, a não ser pecar, e o seu poder humano diminiu quando triunfa a graça divina, destruídora do pecado. A fraqueza da criatura cede ao poder do Criador e a vaidade dos nossos afectos egoístas dissolve-se diante do amor universal, enquanto João Baptista do fundo da nossa angústia, nos grita a misericórdia de Jesus Cristo: «É necessário que Ele cresça e eu diminua».
Santo Agostinho

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