segunda-feira, março 19, 2007

A volta do filho pródigo

Evangelho São Lucas 15, 1-3.11-32
“Conheceis à distância o meu próprio pensar. Estais atento a todos os meus passos” (Sl 138, 2-3). Enquanto sou viajante, antes da minha chegada à pátria, compreendeste o meu pensamento. Pensai no filho mais novo, que partiu para longe. O mais velho não partiu para longe, trabalhava nos campos, simbolizando os santos que, respeitando a Lei, observavam as práticas e os preceitos da Lei.
Mas o género humano, que se tinha desviado para o culto dos ídolos, tinha “partido para longe”. Com efeito, nada está tão longe daquele que te criou como essa imagem modelada por ti, para ti. O filho mais novo partiu, pois, para uma região distante, levando consigo a sua parte da herança e, segundo nos diz o Evangelho, esbanjou-a. Após tantas infelicidades e tanto abatimento, depois das provas e do desenlace, recordou-se do pai e quis regressar para junto dele. Disse então: “Levantar-me-ei e irei ter com meu pai.” Não é verdade que Aquele que abandonei está em toda a parte? É por isso que, no Evangelho, o Senhor nos diz que o pai “foi ter com ele”. É que “conheceu à distância o seu próprio pensar. Estais atento a todos os meus passos.” Que passos são esses, senão os maus caminhos que ele tinha seguido para abandonar o pai, como se pudesse esconder-se do seu olhar que chamava por ele, ou como se a miséria esmagadora que o reduzira a ser guardador de porcos não fosse o castigo que o pai lhe infligira, a fim de o levar a regressar?
Deus ataca as nossas paixões, para onde quer que vamos, por muito longe que nos encontremos. É por isso que, qual fugitivo detido, o filho diz: “Conheceis à distância o meu próprio pensar. Estais atento a todos os meus passos”. Os meus passos, por longe que me levassem, não puderam afastar-me do Teu olhar. Tinha andado muito, mas Tu estavas aonde cheguei. Mesmo antes de eu lá entrar, mesmo antes de eu ter começado a andar, já Tu o tinhas visto. E permitiste que seguisse os meus caminhos na dor, para que, se não quisesse continuar a sofrer, regressasse a Ti. Confesso a minha culpa diante de Ti: segui o meu próprio pensar, afastei-me de Ti; abandonei-Te, a Ti, junto de quem estava tão bem; e, para meu bem, sofri por me encontrar sem Ti. Porque, se não tivesse sofrido sem Ti, talvez não tivesse querido regressar a Ti.
Santo Agostinho

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