sexta-feira, março 30, 2007

“Bendito seja o Rei que vem em nome do Senhor!” (Lc 19, 38)

Domingo, dia 1 de Abril de 2007


Evangelho Segundo São Lucas 22,14-71 ; 23, 1-56
Sentado no teu trono no céu, aqui em baixo no burrinho, Cristo que és Deus, tu acolhias o louvor dos anjos e o hino das crianças que te cantavam: “Bendito sejas tu, que vens chamar Adão”.
Eis o nosso rei, doce e pacífico, montado num jumentinho, que vem cheio de pressa para sofrer a sua Paixão e para retirar os pecados. O Verbo, montado num animal, quer salvar todos os seres dotados de razão. E podíamos contemplar sobre o dorso de um burrito aquele que conduz os Querubins e que no passado retirou Elias sobre um carro de fogo, aquele que “sendo rico, se fez pobre” voluntariamente (2 Co 8, 9), aquele que escolhendo a fraqueza, dá a força a todos os que lhe gritam: “Bendito sejas tu, que vens chamar Adão”.
Tu manifestas a tua força escolhendo a indigência… As vestes dos discípulos eram a marca da indigência, mas proporcional ao teu poder era o hino das crianças e a afluência da multidão que gritava: “Hossana – quer dizer: Salva pois – tu que estás no mais alto dos céus. Salva, Altíssimo, os humildes. Tem piedade de nós, por atenção às nossas palmas, os ramos que se agitam moverão o teu coração, ó tu que vens chamar Adão".
Ó criatura da minha mão, respondeu o Criador…, vim eu próprio. Não é a Lei que te salvará, pois ela não te criou, nem os profetas, que eram criaturas como tu. Só eu posso libertar-te da tua divida. Eu fui vendido por ti, e eu liberto-te; fui crucificado por causa de ti, e tu escapas à morte. Eu morro, e ensino-te a gritar: “Bendito sejas tu, que vens chamar Adão”.
Amei assim tanto os anjos? Não, és tu, ó miserável, que me és querido. Escondi a minha glória e eu, o Rico, fiz-me pobre deliberadamente, porque te amo muito. Por ti, sofri a fome, a sede, a fadiga. Percorri montanhas, ravinas e vales à tua procura, ovelha perdida; tomei a reputação de cordeiro para te trazer de volta, atraído pela minha voz de pastor, e quero dar a minha vida por ti, para te arrancar das garras do lobo. Suporto tudo para que tu grites: “Bendito sejas tu, que vens chamar Adão”.
São Romão o Melodioso (?-vers 560)
Compositor de hinos

quinta-feira, março 29, 2007

Jesus não despreza ninguém...

"Tendo entrado, a um sábado, em casa de um dos principais fariseus para comer uma refeição, todos o observavam. Achava-se ali, diante dele, um hidrópico. Jesus, dirigindo a palavra aos doutores da Lei e fariseus, disse-lhes: «É permitido ou não curar ao sábado?» Mas eles ficaram calados. Tomando-o, então, pela mão, curou-o e mandou-o embora. Depois, disse-lhes: «Qual de vós, se o seu filho ou o seu boi cair a um poço, não o irá logo retirar em dia de sábado?» E a isto não puderam replicar. " São Lucas 14, 1-6
O eterno e invisível Criador do mundo, tendo decidido salvar o género humano que se arrastava de geração em geração submetido às duras leis da morte, "nestes tempos que são os últimos" (He 1, 2) dignou-se fazer-se homem..., para resgatar na sua clemência aqueles que, na sua justiça, havia condenado. A fim de mostrar a profundidade do seu amor por nós, não só se fez homem, mas homem pobre e humilde, para que, tornando-se próximo de nós na sua pobreza, nos permitisse tomar parte nas suas riquezas (2 Co 8, 9). Fez-se por nós tão pobre que nem tinha lugar onde repousar a cabeça: "As raposas têm a sua toca e as aves do céu o seu ninho mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça" (Mt 8,20).
É por isso que ele aceitava ir tomar as refeições com quem o convidava, não pelo gosto imoderado pela comida, mas para ali ensinar a salvação e suscitar a fé. Ali enchia de luz os convivas com os seus milagres. Ali, os servos, que estavam ocupados no interior da casa e não tinham a liberdade de ir para junto dele, ouviam a palavra da salvação. Na verdade, não desprezava ninguém, nenhum era indigno do seu amor porque "ele tem piedade de nós; não odeia nenhuma das suas obras e ocupa-se cuidadosamente de cada uma delas" (Sb 11, 24).
Para realizar a sua obra de salvação, o Senhor entrou assim na casa de um notável fariseu, num dia de sábado.. Os escribas e os fariseus observavam-no para o poderem repreender: para, se ele curasse o hidrópico, o poderem acusar de violar a Lei e, se o não curasse, o acusarem de impiedade ou de fraqueza... À luz puríssima da palavra da verdade, viram dissipar-se todas as trevas da sua mentira.
Beato Guerric d'Igny (cerca de 1080-1157)
Abade cisterciense

segunda-feira, março 26, 2007

Ser cristão é ser para os outros...

Há algo mais irrisório do que um cristão que não se preocupa com os outros? Não tomes como pretexto a tua pobreza: a viúva que pôs duas pequenas moedas na arca do tesouro (Mc 12, 42) levantar-se-ia contra ti; Pedro também, ele que dizia ao coxo: “Não tenho ouro nem prata” (Ac 3, 6) e Paulo, tão pobre, que tinha muitas vezes fome. Não uses a tua condição social, pois os apóstolos também eram humildes e de baixa condição. Não invoques a tua ignorância, porque eles eram homens iletrados. Mesmo se tu eras escravo ou fugitivo, tu podias sempre fazer o que dependia de ti. Assim era Onésimo que Paulo elogiou. Serás tu de saúde frágil? Timóteo também o era. Sim, seja o que for que sejamos, não importa quem pode ser útil ao seu próximo, se quer verdadeiramente fazer o que pode.
Vês quantas árvores da floresta são vigorosas, belas, esbeltas? E contudo, nos jardins, preferimos árvores de fruto ou oliveiras cobertas de frutos. Belas árvores estéreis, assim são os homens que apenas consideram o seu próprio interesse...
Se o fermento não levedasse a massa, não seria um verdadeiro fermento. Se um perfume não perfumasse os que estão perto, poderíamos chamá-lo de perfume? Não digas, pois, que é impossível teres uma boa influência sobre os outros, porque se és verdadeiramente cristão, é impossível que não se passe nada; isso faz parte da essência própria do cristão...
Será tão contraditório dizer que um cristão não pode ser útil ao seu próximo como negar ao sol a possibilidade de iluminar e aquecer.
S. João Crisóstomo

domingo, março 25, 2007

Perdoa-nos Senhor...

"Jesus foi para o Monte das Oliveiras. De madrugada, voltou outra vez para o templo e todo o povo vinha ter com Ele. Jesus sentou-se e pôs-se a ensinar. Então, os doutores da Lei e os fariseus trouxeram-lhe certa mulher apanhada em adultério, colocaram-na no meio e disseram-lhe: «Mestre, esta mulher foi apanhada a pecar em flagrante adultério. Moisés, na Lei, mandou-nos matar à pedrada tais mulheres. E Tu que dizes?» Faziam-lhe esta pergunta para o fazerem cair numa armadilha e terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se para o chão, pôs-se a escrever com o dedo na terra. Como insistissem em interrogá-lo, ergueu-se e disse-lhes: «Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra!» E, inclinando-se novamente para o chão, continuou a escrever na terra. Ao ouvirem isto, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus e a mulher que estava no meio deles. Então, Jesus ergueu-se e perguntou-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?» Ela respondeu: «Ninguém, Senhor.» Disse-lhe Jesus: «Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar.»" (São João 8,1-11)
Ó meu Deus, que amas perdoar, meu Criador,
faz crescer sobre mim o fulgor da tua luz inacessível
para que encha de alegria meu coração.
Ah! não te irrites! Ah! não me abandones!
Mas faz resplandecer a minha alma com a tua luz,
porque a tua Luz, ó meu Deus, és tu...
Afastei-me do caminho recto, do caminho de Deus,
e caí lamentavelmente da glória que me tinha sido dada.
Fui despojado da veste luminosa, da veste de Deus,
e, caído nas trevas, nas trevas permaneço,
e não sei mesmo que estou privado da Luz...
Porque, se tu brilhaste no alto, se apareceste na obscuridade,
se vieste ao mundo, ó Misericordioso, se quiseste viver com os homens,
segundo a nossa condição, por amor ao homem,
se...disseste que eras a luz do mundo (Jo 8,12)
e, ainda assim, nós não te vimos,
não seremos nós totalmente cegos
e mais desgraçados do que os próprios cegos, ó meu Cristo?
Mas tu, que és todos os bens,
tu os dás sem cessar aos teus servos,
aos que vêem a tua luz...
Quem te possui, realmente possui tudo em ti.
Que eu não seja privado de ti, Mestre!
Que eu não seja privado de ti, Criador!
Que eu não seja privado de ti, Misericordioso,
eu que sou um humilde estrageiro...
Peço-te: dá-me um lugar junto de ti,
mesmo se multipliquei meus pecados mais do que todos os homens.
Aceita a minha oração como a do publicano (Lc 18,13),
como a da prostituta (Lc 7,38), Mestre,
ainda que eu não chore como ela...
Não és tu a nascente da piedade, a fonte da misericórdia e o rio da bondade?
Tem piedade de mim!
Sim, tu que tiveste as mãos, que tiveste os pés pregados na cruz,
que tiveste o lado trespassado pela lança, ó todo-Compassivo,
tem piedade de mim e arranca-me ao fogo eterno...
Que nesse dia eu me erga sem condenação diante de ti,
para ser acolhido na sala das tuas núpcias,
em que partilharei a tua felicidade, meu bom Mestre,
na alegria inexprimível, por todos os séculos. Amen!
S. Simeão, o Jovem Teólogo (c. 949-1022)
Monge ortodoxo

sexta-feira, março 23, 2007

Jesus escolhe os simples

Se Jesus tivesse escolhido para ministros dos seus ensinamentos homens sábios segundo a opinião pública, capazes de compreender e de exprimir ideias caras à multidão, poderiam tê-lo acusado de pregar segundo o método dos filósofos de escola, e o carácter divino da sua doutrina não se teria mostrado com toda a sua evidência. A sua doutrina e a sua pregação teriam consistido “em sabedoria de palavras” (1 Cor 1, 17) ; e a nossa fé, semelhante àquela com que se adere às doutrinas dos filósofos deste mundo, assentaria na sabedoria dos homens e não no poder de Deus (cf. 1 Cor 2, 5). Mas, quando vemos pescadores e publicanos sem instrução terem a ousadia de discutir com os judeus a fé em Jesus Cristo, de a pregar ao resto do mundo, e de conseguir lá chegar, não podemos deixar de procurar a origem deste poder de persuasão. Como não podemos deixar de confessar que Jesus cumpriu a sua palavra – “Vinde após Mim e Eu farei de vós pescadores de homens” (Mt 4, 19) – nos seus apóstolos por meio de um poder divino. Também Paulo manifesta este poder quando escreve: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em discursos persuasivos da sabedoria humana, mas na manifestação do Espírito e do poder divino” (1 Cor 2, 4).
O mesmo haviam já dito os profetas, quando anunciavam antecipadamente a pregação do Evangelho: “O Senhor dá a palavra e os anunciadores da Boa Nova são uma multidão”, a fim de que “rápida corra a sua palavra” (Sl 67, 12; 147, 4). E, de facto, vemos que “a voz” dos apóstolos de Jesus ressoa “por toda a terra, até aos confins do universo a sua palavra” (Sl 18, 5; Rom 10, 18). Eis por que motivo aqueles que escutam a palavra de Deus poderosamente enunciada se enchem, eles mesmos, de poder; e manifestam-no pela sua conduta e pela sua luta em prol da verdade até à morte.
Orígenes (c. 185-253), Sacerdote e Teólogo

quarta-feira, março 21, 2007

Pedro, a rocha sobre a qual Cristo fundou a Igreja

“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja. Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus, e tudo quanto ligares na terra ficará ligado nos Céus, e tudo quanto desligares na terra será desligado nos Céus” (Mt 16, 18-19)

As três metáforas às quais Jesus recorre são muito claras: Pedro será o fundamento, a rocha sobre o qual se apoiará o edifício da Igreja; ele terá as chaves do reino dos céus, para abrir ou fechar a quem melhor julgar; por fim, poderá ligar ou desligar, no sentido em que poderá estabelecer ou proibir o que considerar necessário para a vida da Igreja, que é e permanece a Igreja de Cristo.
Esta posição de preeminência que Jesus decidiu conferir a Pedro verifica-se também depois da ressurreição (Mc 16, 7; Jo, 20, 2. 4-6). Pedro será, entre os Apóstolos, a primeira testemunha de uma aparição do Ressuscitado (Lc 24, 34; 1 Cor 15, 5). Este seu papel, realçado com decisão (Jo 20, 3-10), marca a continuidade entre a preeminência obtida no grupo apostólico e a preeminência que continuará a ter na comunidade que nasceu depois dos acontecimentos pascais. Vários textos-chave relativos a Pedro podem ser relacionados com o contexto da Última Ceia, no decurso da qual Cristo confere a Pedro o ministério de confirmar os seus irmãos (Lc 22, 31ss.).
Esta contextualização do primado de Pedro na Última Ceia, no momento da instituição da Eucaristia, Páscoa do Senhor, indica também o sentido último deste primado: Pedro deve ser, para todos os tempos, o guardião da comunhão com Cristo; deve conduzir à comunhão com Cristo; deve preocupar-se por que a rede não se rompa (Jo 21, 11), para que possa perdurar a comunhão universal. Só juntos podemos estar com Cristo, que é o Senhor de todos. A responsabilidade de Pedro é, pois, a de garantir a comunhão com Cristo pela caridade de Cristo, conduzindo à realização desta caridade na vida de todos os dias. Rezemos para que o primado de Pedro, confiado a pobres pessoas humanas, possa ser sempre exercido neste sentido originário querido pelo Senhor e para que, desse modo, o seu verdadeiro significado possa ser cada vez mais reconhecido pelos irmãos que ainda não estão em plena comunhão connosco.
Papa Bento XVI
Audiência geral de 07-06-06

segunda-feira, março 19, 2007

A volta do filho pródigo

Evangelho São Lucas 15, 1-3.11-32
“Conheceis à distância o meu próprio pensar. Estais atento a todos os meus passos” (Sl 138, 2-3). Enquanto sou viajante, antes da minha chegada à pátria, compreendeste o meu pensamento. Pensai no filho mais novo, que partiu para longe. O mais velho não partiu para longe, trabalhava nos campos, simbolizando os santos que, respeitando a Lei, observavam as práticas e os preceitos da Lei.
Mas o género humano, que se tinha desviado para o culto dos ídolos, tinha “partido para longe”. Com efeito, nada está tão longe daquele que te criou como essa imagem modelada por ti, para ti. O filho mais novo partiu, pois, para uma região distante, levando consigo a sua parte da herança e, segundo nos diz o Evangelho, esbanjou-a. Após tantas infelicidades e tanto abatimento, depois das provas e do desenlace, recordou-se do pai e quis regressar para junto dele. Disse então: “Levantar-me-ei e irei ter com meu pai.” Não é verdade que Aquele que abandonei está em toda a parte? É por isso que, no Evangelho, o Senhor nos diz que o pai “foi ter com ele”. É que “conheceu à distância o seu próprio pensar. Estais atento a todos os meus passos.” Que passos são esses, senão os maus caminhos que ele tinha seguido para abandonar o pai, como se pudesse esconder-se do seu olhar que chamava por ele, ou como se a miséria esmagadora que o reduzira a ser guardador de porcos não fosse o castigo que o pai lhe infligira, a fim de o levar a regressar?
Deus ataca as nossas paixões, para onde quer que vamos, por muito longe que nos encontremos. É por isso que, qual fugitivo detido, o filho diz: “Conheceis à distância o meu próprio pensar. Estais atento a todos os meus passos”. Os meus passos, por longe que me levassem, não puderam afastar-me do Teu olhar. Tinha andado muito, mas Tu estavas aonde cheguei. Mesmo antes de eu lá entrar, mesmo antes de eu ter começado a andar, já Tu o tinhas visto. E permitiste que seguisse os meus caminhos na dor, para que, se não quisesse continuar a sofrer, regressasse a Ti. Confesso a minha culpa diante de Ti: segui o meu próprio pensar, afastei-me de Ti; abandonei-Te, a Ti, junto de quem estava tão bem; e, para meu bem, sofri por me encontrar sem Ti. Porque, se não tivesse sofrido sem Ti, talvez não tivesse querido regressar a Ti.
Santo Agostinho

quinta-feira, março 15, 2007

Seguir...CRISTO

Que necessidade havia de o Filho de Deus sofrer por nós? Uma grande necessidade, que se pode resumir em dois pontos: necessidade de remédio para os nossos pecados, necessidade de exemplo para a nossa conduta. Porque a Paixão de Cristo dá-nos um exemplo válido para toda a nossa vida. Se procuras um exemplo de caridade: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15, 13). Se procuras a paciência, é na cruz que ela se encontra maximamente. Cristo sofreu grandes males na cruz, e com paciência, já que, “quando O insultavam, não ameaçou” (1 Ped 2, 23), “não abriu a boca, como cordeiro levado ao matadouro” (Is 53, 7); “Devemos correr com perseverança a carreira que nos é proposta, com os olhos fixos em Jesus, autor e consumador da fé, o Qual, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a ignomínia” (Heb 12, 1-2).
Se procuras um exemplo de humildade, olha para o crucificado. Porque Deus quis ser julgado por Pôncio Pilatos e morrer. Se procuras um exemplo de obediência, basta-te seguir Aquele que se fez obediente ao Pai “até à morte” (Fil 2, 8); “Porque, como pela desobediência de um só, muitos se tornaram pecadores, assim também, pela obediência de um só, muitos se tornaram justos” (Rom 5, 19). Se procuras um exemplo de desprezo pelos bens terrenos, basta-te seguir Aquele que é Rei dos Reis e Senhor dos Senhores “no Qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Col 2, 3) que, na cruz, está despido, objecto de desprezo, coberto de escárnio e de ferimentos, coroado de espinhos e, finalmente, dessedentado em fel e vinagre.
São Tomás de Aquino

terça-feira, março 13, 2007

Pronunciar-se por Cristo ao longo de toda a vida

Embora a todo o discípulo de Cristo incumba a obrigação de difundir a fé conforme as suas possibilidades, Cristo Senhor chama sempre dentre os discípulos os que Ele quer para estarem com Ele e os enviar a evangelizar os povos (Mc 3, 13-14).
Porém, ao chamamento de Deus, o homem deve responder de forma tal que, sem se deixar guiar pela carne e sangue (Ga 1, 16), todo ele se entregue à obra do Evangelho. Mas esta resposta não pode ser dada senão por impulso e virtude do Espírito Santo. O enviado entra, portanto, na vida e missão d'Aquele que «a si mesmo se aniquilou tomando a forma de servo» (Fil 2,7). Por conseguinte, deve estar pronto a perseverar toda a vida na vocação, a renunciar a si e a todas as suas coisas (Lc 14, 26.33) e a fazer-se tudo para todos (1Co 9, 22).
Anunciando o Evangelho aos povos, dê a conhecer confiadamente o mistério de Cristo, do qual é legado, de maneira que ouse falar d'Ele como convém (Ef 6, 19), não se envergonhando do escândalo da cruz. Seguindo os passos do seu mestre, manso e humilde de coração, mostre que o Seu jugo é suave e leve a Sua carga (Mt 11, 29). Mediante uma vida verdadeiramente evangélica, com muita paciência, longanimidade, suavidade, caridade sincera, dê testemunho do seu Senhor até à efusão do sangue, se for necessário. Alcançará de Deus virtude e força para descobrir a abundância de gozo que se encerra na grande prova da tribulação e da pobreza absoluta.
Concílio Vaticano II

Decreto sobre a Actividade Missionária da Igreja (Ad Gentes), § 23-24

sábado, março 10, 2007

"Convertei-vos..."

3º Domingo da Quaresma
"Nessa ocasião, apareceram alguns a falar-lhe dos galileus, cujo sangue Pilatos tinha misturado com o dos sacrifícios que eles ofereciam. Respondeu-lhes: «Julgais que esses galileus eram mais pecadores que todos os outros galileus, por terem assim sofrido? Não, Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos igualmente. E aqueles dezoito sobre os quais caiu a torre de Siloé, matando-os, eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não, Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos da mesma forma.» Disse-lhes, também, a seguinte parábola: «Um homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e foi lá procurar frutos, mas não os encontrou. Disse ao encarregado da vinha: 'Há três anos que venho procurar fruto nesta figueira e não o encontro. Corta-a; para que está ela a ocupar a terra?' Mas ele respondeu: 'Senhor, deixa-a mais este ano, para que eu possa escavar a terra em volta e deitar-lhe estrume. Se der frutos na próxima estação, ficará; senão, poderás cortá-la.'»" São Lucas 13, 1-9
Grande paciência a de Deus! Ele faz nascer o dia e erguer-se a luz do sol sobre bons e maus (Mt 5, 45). Ele rega a terra com a chuva, e a ninguém exclui dos seus benefícios, concedendo a água indistintamente a justos e a injustos. Vemo-lo agir com igual paciência com culpados e inocentes, fiéis e ímpios, agradecidos e ingratos. Para todos eles, os tempos obedecem às ordens de Deus, os elementos colocam-se ao Seu serviço, sopram os ventos, brota água das fontes, as colheitas crescem em abundância, as uvas amadurecem, as árvores enchem-se de frutos, as florestas cobrem-se de verdes e os prados de flores. Embora tenha poder para se vingar, prefere ter paciência por muito tempo, espera e adia com bondade para que, se for possível, a malícia se atenue com o tempo e o homem acabe por se voltar para Deus, segundo o que Ele próprio nos diz: “Não tenho prazer na morte do ímpio, mas sim na sua conversão, de maneira que ele tenha a vida” (Ez 33, 11). E ainda: “Convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque Ele é bom e compassivo, clemente e misericordioso” (Jl 2, 13).
Ora, Jesus diz-nos: “Sede perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celeste” (Mt 5, 48). Por meio destas palavras, mostra-nos que, filhos de Deus e regenerados por um nascimento celeste, alcançamos o cume da perfeição quando a paciência de Deus Pai permanece em nós e a semelhança divina, perdida pelo pecado de Adão, se manifesta e brilha nas nossas acções. Que glória assemelharmo-nos a Deus, que grande honra possuirmos esta virtude digna dos louvores divinos!
São Cipriano (c. 200-258)
Bispo de Cartago e Mártir

quinta-feira, março 08, 2007

Os Evangelhos

Ninguém ignora que entre todas as Escrituras, mesmo do Novo Testamento, os Evangelhos têm o primeiro lugar, enquanto são o principal testemunho da vida e doutrina do Verbo encarnado, nosso salvador.
A Igreja defendeu e defende sempre e em toda a parte a origem apostólica dos quatro Evangelhos. Com efeito, aquelas coisas que os Apóstolos, por ordem de Cristo, pregaram, foram depois, por inspiração do Espírito Santo, transmitidas por escrito por eles mesmos e por varões apostólicos como fundamento da fé, ou seja, o Evangelho quadriforme, segundo Mateus, Marcos, Lucas e João.
A santa mãe Igreja defendeu e defende firme e constantemente que estes quatro Evangelhos, cuja historicidade afirma sem hesitação, transmitem fielmente as coisas que Jesus, Filho de Deus, durante a sua vida terrena, realmente operou e ensinou para salvação eterna dos homens, até ao dia em que subiu ao céu (cfr. Act. 1. 1-2). Na verdade, após a ascensão do Senhor, os Apóstolos transmitiram aos seus ouvintes, com aquela compreensão mais plena de que eles, instruídos pelos acontecimentos gloriosos de Cristo e iluminados pelo Espírito de verdade gozavam, as coisas que Ele tinha dito e feito. Os autores sagrados, porém, escreveram os quatro Evangelhos, escolhendo algumas coisas entre as muitas transmitidas por palavra ou por escrito, sintetizando umas, desenvolvendo outras, segundo o estado das igrejas, conservando, finalmente, o carácter de pregação, mas sempre de maneira a comunicar-nos coisas autênticas e verdadeiras acerca de Jesus. Com efeito, quer relatassem aquilo de que se lembravam e recordavam, quer se baseassem no testemunho daqueles «que desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra», fizeram-no sempre com intenção de que conheçamos a «verdade» das coisas a respeito das quais fomos instruídos (cfr. Lc. 1, 2-4).

Concílio Vaticano II
Constituição sobre a Revelação Divina (Dei Verbum), §18-19

segunda-feira, março 05, 2007

Transfiguração de Jesus

"Uns oito dias depois destas palavras, levando consigo Pedro, João e Tiago, Jesus subiu ao monte para orar. Enquanto orava, o aspecto do seu rosto modificou-se, e as suas vestes tornaram-se de uma brancura fulgurante. E dois homens conversavam com Ele: Moisés e Elias, os quais, aparecendo rodeados de glória, falavam da sua morte, que ia acontecer em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando eles iam separar-se de Jesus, Pedro disse-lhe: «Mestre, é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias.» Não sabia o que estava a dizer. Enquanto dizia isto, surgiu uma nuvem que os cobriu e, quando entraram na nuvem, ficaram atemorizados. E da nuvem veio uma voz que disse: «Este é o meu Filho predilecto. Escutai-o.» Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou só. Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, nada contaram a ninguém do que tinham visto." São Lucas 9, 28-36

Aproximava-se a hora da Paixão… Nesse momento os discípulos não deviam estar com o espírito abalado; não devia acontecer que aqueles que, um pouco antes, tinham confessado pela voz de Pedro que ele era o filho de Deus (Mt 16,16) acreditassem, vendo-o pregado na cruz como um culpado, que ele era um simples homem. Por isso os fortaleceu com esta visão admirável.
Assim, quando o vissem traído, em agonia, implorando que lhe fosse afastado o cálice da morte e arrastado ao tribunal do sumo sacerdote, lembrar-se-iam da subida ao Tabor e compreenderiam que era por sua livre vontade que se entregava à morte… Quando vissem os golpes e os escarros na sua face, não se escandalizariam, relembrando-se do seu brilho que ultrapassava o do sol. Quando o vissem revestido pelo escárnio do manto escarlate, lembrar-se-iam que esse mesmo Jesus estivera vestido de luz no monte. Quando o vissem crucificado na cruz entre dois malfeitores, lembrar-se-iam que ele tinha aparecido entre Moisés e Elias como o seu Senhor. Quando o vissem sepultado na terra como um morto, pensariam na nuvem luminosa que o envolvera.
Aqui está pois um motivo para a Transfiguração. E talvez haja um outro: o Senhor exortava os seus discípulos a não tentarem economizar a sua própria vida; ele dizia-lhes: “se alguém quiser vir após Mim, renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me” (Mt 16,24). Mas renunciar a si mesmo e ir ao encontro de uma morte vergonhosa, isso parece difícil; é por isso que o Salvador mostra aos seus discípulos qual o tipo de glória de que serão julgados dignos os que imitarem a sua Paixão. Com efeito a Transfiguração não é senão a manifestação por adiantamento do último dia “onde os justos fulgirão na presença de Deus” (Mt 13,43).
Teófanes de Cerameia (séc. XII) Monge de S. Basílio

sexta-feira, março 02, 2007

A oração introduz-nos desde já no Reino de Deus


«Santificado seja o vosso nome. Venha a nós o vosso Reino.» Admirai aqui, minhas filhas, a imensa sabedoria do nosso Mestre! Que queremos nós quando pedimos esse Reino? Nosso Senhor conhecia a nossa extrema fraqueza. Ele sabia que nós éramos incapazes de santificar, de louvar, de exaltar, de glorificar o nome santíssimo do Pai eterno duma forma conveniente, a menos que atendesse a isso dando-nos logo cá em baixo o seu Reino. Foi exactamente por isso que o bom Jesus juntou aqui estes dois pedidos.
Em minha opinião, um dos grandes bens que encerra o Reino do céu é que, lá, ficamos afastados de todas as coisas da terra; lá, goza-se um repouso e uma beatitude íntimas; lá, participa-se da alegria de todos numa paz perpétua, numa felicidade profunda de ver todos os eleitos santificarem e louvarem o Senhor, abençoando o seu nome, sem que se ache alguém que O ofenda. Todos O amam, e a alma não tem outra ocupação que não seja amá-lO, e não pode deixar de O amar porque O conhece. Pois bem! Se nós pudéssemos conhecê-lO, amá-lO-íamos do mesmo modo cá em baixo, não todavia tão perfeitamente nem com essa estabilidade, mas enfim, amá-lO-íamos de modo diferente daquele com que O amamos.
Aquilo de que estamos a tratar é possível à alma, já neste exílio, com a graça de Deus. Mas, na verdade, ela não pode atingi-lo perfeitamente, pois ainda navegamos no mar deste mundo, e continuamos viajantes. Há contudo momentos em que o Senhor, vendo-nos fatigados do caminho, põe todas as nossas forças na calma e a nossa alma na quietude. Então, Ele revela claramente, por um certo ante-gosto, qual é o sabor da recompensa reservada àqueles que introduz no seu Reino.

Santa Teresa d’Ávila
Free Photo Albums from Bravenet.comFree Photo Albums from Bravenet.com