quinta-feira, janeiro 04, 2007

Imitar a paciência do Senhor

Nosso Senhor foi um modelo incomparável de paciência; suportou um demónio entre os seus discípulos (Jo 6, 70), até à sua paixão; e disse: "Deixai um e outro crescer juntamente, até à ceifa; não suceda que, ao apanhardes o joio, arranqueis o trigo" (Mt 13, 29-30). Para figurar a Igreja, previu que a rede trouxesse para a margem, até ao fim do mundo, todo o tipo de peixes, bons e maus. E fez conhecer de muitas maneiras, fosse abertamente, fosse em parábolas, que haveria mistura de bons e de maus. E, contudo, declara que é necessário velar pela disciplina na Igreja quando afirma: "Se o teu irmão pecar, vai ter com ele repreeende-o a sós. Se te der ouvidos, terás ganho o teu irmão" (Mt 18, 15).
Hoje em dia, porém, encontramos homens que apenas consideram os preceitos rigorosos, que mandam reprimir os perturbadores, não dar as coisas santas aos cães (Mt 7, 6), tratar como os publicanos aqueles que desprezam a Igreja (Mt 18, 17), cortar do corpo o membro escandaloso (Mt 5, 30). O zelo intempestivo destas pessoas perturba de tal maneira a Igreja, que gostariam de arrancar a cizânia antes do tempo, e a sua cegueira faz deles inimigos da unidade de Jesus Cristo.
Evitemos deixar entrar no nosso coração estes pensamentos presunçosos, procurar separar-nos dos pecadores, a fim de não nos mancharmos pelo contacto com eles, querer formar como que um rebanho de discípulos puros e santos; mais não faríamos do que romper a unidade, sob pretexto de não prestar atenção aos maus. Pelo contrário, recordemos as parábolas da Escritura, as suas palavras inspiradas, os seus exemplos admiráveis, por meio dos quais se nos mostra que, na Igreja, os maus estarão sempre misturados com os bons, até ao fim do mundo e ao dia do juízo, sem que a sua participação nos sacramentos seja prejudicial aos bons, desde que estes não tenham participação nos seus pecados.
Santo Agostinho

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